Porque a vida merece ser "degustada"


Bolo-rei...uma presença de Natal nas mesas portuguesas

Com mais ou menos frutas cristalizadas, com mais ou menos frutos secos, de massa mais fofa ou menos fofa, com fava ou com boneco ou sem ambos, desde o séc. XIX que o Bolo-rei faz parte da tradição natalícia das mesas portuguesas. Se em criança não gostava devido às frutas cristalizadas, aprendi a gostar dele à medida que fui crescendo: primeiro retirava as frutas cristalizadas e depois passei a comer tudo. Uma delícia. Mas, se antes os portugueses o começavam a comer apenas junto à Quadra Natalícia e até aos Reis, com o passar do tempo, vemos o Bolo-rei a ser produzido e a ser vendido cada vez mais cedo e em Novembro já os vemos junto às caixas das grandes superfícies e enquanto estamos na fila, muitas vezes lá colocamos um no carrinho.

O nome Bolo-rei foi atribuido em referência aos três reis magos. Tradicionalmente, no interior do bolo encontravam-se também uma fava seca e um pequeno brinde, normalmente feito de metal. A fava dava a quem a recebesse numa fatia o direito de pagar o próximo bolo-rei, e o brinde dava sorte a quem o encontrasse. Consta que havia ainda quem colocasse nos bolos pequenas adivinhas, cuja recompensa seria meia libra de ouro, ou mesmo as próprias moedas de ouro, como forma de presentear a quem se oferecia o bolo.

A origem do Bolo-rei remonta, ao que se sabe, ao tempo dos romanos. Estes tinham por hábito eleger o rei da festa durante os banquetes festivos, o que era feito tirando à sorte com favas, pelo que era também designado por vezes de rei da fava. A Igreja Católica aproveitou o facto de aquele jogo ser característica do mês de Dezembro e decidiu relacioná-lo com a Natividade e com a Epifania, ou seja, com os dias 25 de Dezembro e 6 de Janeiro. A influência da Igreja na Idade Média determinou que esta última data fosse designada por Dia de Reis e simbolizada por uma fava introduzida num bolo, cuja receita se desconhece atualmente.

O Bolo-rei atual terá surgido na corte de Luís XIV, em França, para as festas do Ano Novo e do Dia de Reis e foi designado por Gâteau dês Róis. No entanto, com a Revolução Francesa, em 1789, o bolo-rei foi proibido, só que os pasteleiros, que não quiseram perder o negócio, em vez de o eliminarem decidiram continuar a confeccioná-lo mudando-lhe o nome para Gâteau dês Sans-cullotes

O Bolo-rei popularizado em Portugal no século XIX segue uma receita originária do sul de Loire e, tanto quanto se sabe, a primeira casa onde se vendeu bolo rei em Portugal foi a Confeitaria Nacional, em Lisboa, por volta de 1870, com base numa receita trazida de Paris.

O Bolo-rei atravessou assim com êxito os reinados da rainha D. Maria II e dos reis D. Pedro, D. Luis, D. Carlos e D. Manuel II. Vieram depois o Estado Novo de Salazar e Marcelo Caetano e a Revolução de 25 de Abril de 1974. Mas foi com a proclamação da República em 5 de Outubro de 1910 que o Bolo-rei ficou em risco, tudo por causa da palavra "rei". Mas, os confeiteiros, entendendo de que negócio é negócio e política é política, continuaram a fabricar o bolo sob outra designação ("ex-bolo-rei",  "bolo de Natal" ou "bolo de Ano Novo"). Não contentes com nenhuma destas designações, alguns republicanos passaram a chamar-lhe "bolo-presidente" ou mesmo "bolo-Arriaga".

O que é certo é que, politiquices à parte, o Bolo voltou a ter o seu nome original e faz parte do Natal dos portugueses.

Vai uma fatia?