Porque a vida merece ser "degustada"


Havia um pessegueiro na ilha...ao largo as águas brilham como prata

Imortalizados pela bela canção "Porto Côvo" de Rui Veloso (uma das minhas preferidas) que tão bem interpretou o poema de Carlos Tê, Porto Côvo e a mítica Ilha do Pessegueiro remetem-nos para um grande estado de paz e tranquilidade. Fui lá apenas uma vez mas gravei na memória aquela reta que encontramos antes de chegar a Porto Côvo e em que ao longe se vislumbra a bela ilha do pessegueiro. Na minha memória ficaram também as tradicionais e belas casas brancas de Porto Côvo, bem como um peixinho grelhado hiper-saboroso servido por um restaurante local.

Com cerca de 340 metros de comprimento e de largura máxima 235 metros, a ilha é toda ela formada por arenito dunar assente sobre xistos. Elevando-se pouco sobre o nível das águas, a Ilha do Pessegueiro é coroada pelas ruínas de um forte inacabado do século XVII que foi muito danificado pelo grande terramoto de 1755.

Considerada Património Nacional desde 1990, a Ilha do Pessegueiro é um dos ex-libris da Costa Sudoeste Portuguesa e conserva numerosos vestígios arqueológicos que nos dão a perceber as dificuldades da navegação ao longo da costa Sul da Lusitânia, entre os séculos IV a.C. e o V d.C.

A ocupação desta costa parece remontar a navegadores cartagineses, em época anterior à segunda guerra púnica (218-202 a.C.).  Num litoral com poucos abrigos, a sua localização a meia distância entre o Cabo de São Vicente e o Estuário do Sado, contribuíram para que se tornasse na Idade do Ferro e mais tarde na época Romana, um valioso porto de apoio à navegação costeira, para quem se defendia de piratas e corsários, bem como um importante entreposto comercial. Assim, são as estruturas romanas que mais abundam por toda a ilha. Com efeito, à época da ocupação romana da Península Ibérica, a ilha abrigou um centro produtor de preparados de peixe (sobretudo sardinha), conforme atestam os recentemente descobertos tanques de salga. Da ilha seguiu (do século I ao XV) peixe das salgas para todo o Alentejo.

O nome “Pessegueiro” parece, segundo os historiadores, estar relacionado com os termos latinos “piscatorius” ou “piscarium”, termos estes associados à actividade da ilha durante a época Romana.

Durante a Dinastia Filipina e, com o objectivo de proteger os pescadores e as gentes locais das incursões dos piratas e corsários argelinos e holandeses, de forma a que não utilizassem o ancoradouro natural como ponto de apoio, foi projectada a sua ampliação através de um enrocamento artificial de pedras que ligaria a Ilha do Pessegueiro à linha da costa.

No âmbito desse projecto, foi iniciado a partir de 1590 a edificação do Forte de Santo Alberto, com a função de cruzar fogos com a fortaleza gémea existente em frente, no continente, o Forte de Nossa Senhora da Queimada.

A Ilha do Pessegueiro é mítica e singela e dá o maior 'ar de graça' a Porto Côvo, um bonito porto de abrigo para umas férias calmas e tranquilas.

Deixem-se embalar agora pelo Poema:

Roendo uma laranja na falésia
Olhando o mundo azul à minha frente
Ouvindo um rouxinol nas redondezas,
No calmo improviso do poente

Em baixo fogos trémulos nas tendas
Ao largo as águas brilham como prata
E a brisa vai contando velhas lendas
De portos e baías de piratas

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um Vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Côvo

A lua já desceu sobre esta paz
E reina sobre todo este luzeiro
Á volta toda a vida se compraz
Enquanto um sargo assa no brazeiro

Ao longe a cidadela de um navio
Acende-se no mar como um desejo
Por trás de mim o bafo do estivo
Devolve-me à lembrança o Alentejo

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um Vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Côvo

Roendo uma laranja na falésia
Olhando à minha frente o azul escuro
Podia ser um peixe na maré
Nadando sem passado nem futuro