Porque a vida merece ser "degustada"
Qual é a nossa Criança Interior?
22-04-2016 13:14Todos nós temos a nossa Criança Interior, um misto de divino e de humano que representa o estado de graça, a criatividade, a plenitude, a inocência e a pureza. Então, porque não a recuperar? Recuperá-la significa buscar as características que nos "salvam": a esperança, a alegria, a espontaneidade, o viver no agora, a vida interior.
É então essencial contactar a nossa Criança Interior pelos seguintes motivos:
Aprendemos a não nos trairmos e a não trair as nossas necessidades;
Aprendemos a reforçar a intuição e a sabedoria;
Ativamos a imaginação;
Relacionamo-nos bem com o nosso corpo;
Vivemos no agora, temos esperança, temos sentido da Vida e capacidade de lidar com os desafios.
Mas, e se a Criança Interior estiver "ferida"? Se não houve amor nem aceitação, se a dor e a rejeição abundaram, a criança aprende a fazer equivaler esse sofrimento à própria Vida. Quem não foi amado, não se sabe amar; quem não foi cuidado no seu corpo-alma, não se saberá cuidar e tornamo-nos iguais às figuras parentais que tivemos e então os medos da criança dominam: medo do abandono, de não pertencer, de não existir para os outros, de não ser amada.
Há então que identificar e reconhecer quais são as nossas "feridas" interiores para que possamos trabalhá-las e curá-las, resgatando o nosso potencial. Mas como? A seguir, vão encontrar vários tipos de Crianças Interiores e apenas terão de analisar o vosso tipo dominante e os tipos secundários. Mãos à obra.
A CRIANÇA QUE ANSEIA A PERFEIÇÃO
Qualidades: rigorosa, trabalhadora, íntegra e com sentido do dever.
Dificuldades: meticulosa, tem medo de cometer erros, exigente, crítica, adora a ordem, moralista mas evita zangar-se, quer ter sempre razão.
Motivações inconscientes: o mundo castiga as más atitudes e a espontaneidade. Está sempre com medo dos julgamentos alheios, reprime a raiva e controla as reações. Forte tendência depressiva e obsessiva.
Necessidades: reencontrar a compaixão, humor, aceitar em si a criança mal comportada, saber que pode ser amada na sua plena humanidade, feita de sucessos e de erros. Deverá desenvolver a flexibilidade, aprender a fluir mais com a vida e aprender a sorrir mais. Perceber que a perfeição é algo que evolui e que é um caminho, mais do que um fim. Deve dar férias às regras, permitir-se expressar ressentimento, partilhar as emoções e dedicar-se a hobbies por puro prazer. Deve ser agradável consigo mesma, reprimir a palavra "devia" e fazer o que tem vontade de fazer. Considerar o erro como essencial à aprendizagem humana e um direito.
A CRIANÇA SALVADORA-MÁRTIR
Qualidades: afetiva, atenciosa, cuida dos outros, protetora, paternal, com tendência a sacrificar-se pelos outros, ternurenta e intuitiva.
Dificuldades: carência afetiva e necessidade de amor, compensadas pela dádiva permanente de si. Não consegue dizer não sem culpa e molda-se facilmente ao que os outros querem que ela seja.
Motivações inconscientes: não gostam de mim tal como sou e portanto reprimo as minhas necessidades. O mundo ignora-me, sou invisível. Acaba por querer agradar a todos a qualquer custo.
Necessidades: compreender que é tão importante como os outros e aprender a dizer não sem se sentir culpada. Precisa de exteriorizar os seus afetos e a sua vontade e de expressar a criatividade. Deve evitar-se dar-se aos outros com o objetivo de ser amada, aprender a ocupar-se de si mesma, de analisar as suas emoções.
A CRIANÇA CONQUISTADORA DE RESULTADOS
Qualidades: confiante, ousada, corajosa, determinada, orientada para a ação e empreendedora.
Dificuldades: vaidosa, arrogante, apressada, não sabe relaxar, põe de lado sentimentos e estados de alma. Não gosta de falar de emoções, que considera perda de tempo. Não sabe não ter nada para fazer, detesta esperar ou perder uma boa oportunidade.
Motivações inconscientes: identifica-se com os resultados, logo, tem de provar o seu valor obtendo bons resultados e vencendo, dando uma imagem de sucesso. O mundo não gosta de mim por aquilo que sou mas por aquilo que faço e alcanço. Ganha amor pelos resultados e ação e isso é o que lhe dá sentido de existir. Os seus valores desenvolveram-se à volta do prestígio, da imagem de sucesso, da busca de aprovação. Compromete o seu bem-estar e equilíbrio com a mentira para que possa "parecer bem".
Necessidades: abrandar, acolher e apreciar os próprios sentimentos. Precisa de descobrir asua autenticidade, desenvolver a esperança e a fé na vida e compreender que tem valor para além dos seus atos e esforços, deve aceitar os pontos fracos, vulnerabilidades e tirar a máscara.
A CRIANÇA SENTIMENTAL
Qualidades: romântica, capaz de expressar sentimentos intensos, partilha sentimentos que muito valoriza, sente atração pelo belo, pelo diferente e único; é criativa, artística, tem grande amplitude emcional e capacidade de gerar empatia.
Dificuldades: lidar com o banal, o quotidiano, a crítica, o feio. Procura apenas o único, intenso, foge do quotidiano insípido, defende que as emoções são mais importantes que os factos.
Motivações inconscientes: sou diferente dos outros e vou valorizar as emoções profundas, buscar a intensidade da vida. Os valores são construidos à volta da expressão da sensibilidade e emoção, do sentido estético e da necessidade de encontrar sentido para a vida. Não gosta da banalidade e usa a melancolia para criar.
Necessidades: uniformizar os estados de humor, sentir-se em harmonia consigo mesma, quaisquer que sejam as circunstâncias, descobrir que já tem tudo aquilo de que necessita e que não precisa de dar provas do seu valor, exagerando na intensidade emocional com que vive as situações. Deve equilibrar energia com artes, ter sentido de escuta e de interesse pelas emoções dos outros.
A CRIANÇA CONTEMPLATIVA
Qualidades: solitária, eremita, calma, discreta, obervadora e intimista.
Dificuldades: lidar com o supérfluo, imprevistos, perguntas sobre os seus sentimentos, demonstrações de afetos. Ergue um muro entre o mundo e ela, controladora, avarenta das emoções, autoprotetora, pensadora compulsiva, não partilha informação e vive entrincheirada num mundo intelectual distante.
Motivações Inconscientes: o mundo é invasor, logo, devo proteger a minha intimidade e procurar defender-me dos outros, devo ser autónoma e autosuficiente.
Necessidades: sair da solidão para ganhar verdadeira confiança, estimular a imaginação criativa, o sentido da aventura, da tomada de riscos, o gosto por agir, a curiosidade, o humor, o entusiasmo. Desenvolver a força da convicção para finalizar o que começa e coragem para se expressar.
A CRIANÇA CONFIÁVEL QUE DESCONFIA
Qualidades: imaginativa, leal, gosta de segurança, precisa de tempo para se preparar e adaptar à situações.
Dificuldades: tem muitas dúvidas, ambivalente em relação à autoridade. Perante o perigo divide-se: fugir ou provocá-lo. Tendência a identificar-se com os mais fracos. Detesta traição, mentira, argumentos superficiais e ser enganada. A vida gira à volta do medo; é preciso garantir a vigilância, entre a submissão e o desafio. Desconfia do sucesso e projeta muito os seus medos no futuro e as suas dúvidas nos outros.
Motivações inconscientes: traíram-me e o mundo é ameaçador e instável. Preciso de estar em guarda, imaginar o pior e desconfiar da autoridade.
Necessidades: coragem para confiar na intuição, ser atenciosa e calma, desenvolver o otimismo e celebrar sucessos, desenvolver a fé na vida e a autoconfiança; tem de se expor mais, ousar estar na frente do palco, aceitar cometer erros mas tomar decisões mesmo assim, centrar-se em si mesma.
A CRIANÇA O BON VIVANT
Qualidades: entusiasta, otimista, sempre em movimento, positiva, para ela a vida é uma festa.
Dificuldades: lidar com detalhes, estar fechada e não sentir intensamente. Foge do sofrimento, procura excitação, racionaliza para fugir da dor, superficial, foge das dificuldades. Nada lhe chega, precisa sempre de mais.
Motivações inconscientes: sofro com as limitações deste mundo, então fujo para o imaginário onde não há limites para a aventura.
Necessidades: desenvolver a sobriedade, lidar com o sofrimento, desdramatizar o medo do compromisso e do envolvimento, perceber os ciclos da vida, ter autodisciplina e perseverança.
A CRIANÇA LÍDER
Qualidades: energia poderosa, gosta de controlar e de comandar, gosta de um bom confronto, é ativa e corta a direito, automotivada. Gosta de proteger, de combater, de provar a força, é tudo ou nada, é excessiva e colérica, gosta de intensidade, é decidida e lutadora.
Dificuldades: lidar com a falta de empenho, não saber como catalogar os outros; detesta rodeios e fragilidades; nega a vulnerabilidade.
Motivações inconscientes: o mundo é insupurtável e injusto, abusaram da minha fraqueza e por isso parecer fraco é perigoso. Controla as situações e disfarça a sua sensibilidade.
Necessidades: desenvolver a moderação face à sua voracidade de viver, recuperar a inocência da criança e mostrar ternura; perceber o impacto que tem nas outras pessoas, colocar-se na pele dos outros, ser empática, mais compassiva e objetiva e desenvolver a vida interior.
A CRIANÇA DIPLOMATA/MEDIADORA
Qualidades: busca harmonia, foge do conflito, conciliadora, apaziguadora, precisa de tempo e de calma e vê facilmente o ponto de vista alheio.
Dificuldades: tomar decisões, fazer escolhas. Prefere a paz falsa ao confronto. Não gosta de rudeza ou de impaciência.
Motivações inconscientes: não sou ouvida, é perigoso dar a minha opinião pois causa separação ou conflito. Dá tempo ao tempo, controla as emoções. Compreende bastante os outros.
Necessidades: compreender que tem direito a existir por si mesma e a ser amada por quem é. Precisa que os outros a ajudem a correr riscos e a gerir prioridades. Precisa de ter coragem para encontrar a sua voz e o seu lugar no mundo.
A CRIANÇA NARCISISTA
Qualidades: adora ser o centro das atenções, extrovertida e teatral, gosta da vida com glamour. É a alma da festa, exigente com a aparência e com os sinais exteriores de status. É de afetos sólidos mas exige uma fidelidade a toda a prova. De temperamento criativo, artístico, preza o bom gosto e o requinte.
Dificuldades: egocêntrica, pode ser tirânica e inflexível. Para ela, o mundo gira ao seu redor.
Motivações inconscientes: tenho de sobressair para ser amada e reconhecida. Se não chamar a atenção, ninguém me amará nem dará por mim.
Necessidades: compreender que os outros também têm direito a palmas e a tempo de antena, ultrapassar a sua insegurança escondida e desenvolver uma autoestima saudável e um sistema amadurecido de valores pessoais. Participar em grupos e trabalhar em equipa, respeitando as diferenças, compreender que pode ser amada sem exagerar na sua "irradiação". Partilhar, dar e receber livremente e procurar realizar os seu dons.
A CRIANÇA INDEPENDENTE
Qualidades: desapegada, preza a liberdade mais que tudo, precisa do seu espaço, gosta de conhecer muita gente, é sociável e popular, com amizade impessoal por todos. Atraída por causas e pela comunicação, adora a mudança que pode controlar. Pode mudar tudo fora para não mudar nada dentro de si.
Dificuldades: ambivalência com compromissos pois a intimidade pode sufocá-la. Não mostra sentimentos facilmente, fingindo que está sempre tudo bem. É rígida e mentalmente intolerante.
Motivações inconscientes: não é seguro relacionar-me, não estão lá para mim pois estavam demasiado ocupados ou ausentes. A intimidade é sufocante ou negativa, tenho de me esconder em relações superficiais. A variedade defende-me de mostrar a vulnerabilidade e o vazio interno.
Necessidades: aprender a ultrapassar o medo da intimidade e das correspondentes cedências e dores inevitáveis; desenvolver a individualidade, o autoconhecimento e a expressão dos sentimentos. Arriscar mais pelo prazer de viver, pôr-se em causa e aceitar mudar para evoluir. Pedir ajuda e saber recebê-la.
A CRIANÇA AVENTUREIRA
Qualidades: o mundo é a sua casa. Sempre em busca de aventura, excitação e novidade. De valores fortes, gosta de viver e deixar viver. Não suporta limites nem rotina. Adora viagens do corpo e da mente. A sua vida é uma busca permanente, um desejo insaciável por mais, por aquilo que não sabe, não tem, não conhece, não viveu. Só está bem onde não está. É otimista e generosa.
Dificuldades: inquieta, instável, não consegue fixar-se em sítio nenhum.
Motivações inconscientes: estamos sempre sozinhas em busca da vida; ficar e enraizar não é opção, porque a realidade é sempre mais dura que o sonho. Tudo melhora se eu for independente. Os seus pais podem tê-la empurrado para uma autonomia precoce ou terem sido negligentes com os limites e regras necessários à criança.
Necessidades: aprender a valorizar o que está ao pé de si, o próximo, a vizinhança e deixar de idealizar o longínquo. Partilhar pontos de vista e responsabilidades nas relações e aceitar que a vida não é só luz. Deve encontrar um sentido positivo para a rotina e terminar o que começa.
E AGORA, CRIANÇAS INTERIORES...MÃOS À OBRA!
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