Porque a vida merece ser "degustada"


O Valor das Soft Skills

17-09-2015 08:35

Ontem, foi dia de reunião escolar relativa à abertura do Ano Letivo e o que se esperava que fosse um encontro "saudável" entre mães, pais, alunos/as e Diretora de Turma iniciou da pior maneira possível. E é aqui que entram as soft skills (atributos e competências pessoais que permitem ao individuo melhorar as suas interações com os outros e com o mundo em seu redor): há quem as tenha e quem não as tenha. Ao invés de um "bom dia" da Diretora de Turma, acompanhado de uma expressão minimamente simpática, ouvimos ser disparada a expressão com tom de grande arrogância" Espero que seja a última vez que tenha de esperar 2 mn para começar a falar". Fez-se silêncio e corajosamente e muito bem um dos pais perguntou: "Bom dia, peço desculpa, mas qual é o seu nome?". Este pai merecía ser aplaudido pois fez notar que um "Bom dia" está primeiro que tudo e que em segundo lugar a Diretora se devería ter apresentado a todos. A sala estava, como é normal, com ruído de fundo pois os alunos, após as férias grandes escolares, gostaram de se reencontrar mas a Diretora estava nesse período a preparar documentação. Quando acabou e se colocou a meio da sala para iniciar a apresentação, rematou logo com aquela expressão. Pergunto: é dessa forma que se motivam os nossos alunos? Eles que estão em 2º lugar na Europa, como os alunos que mais horas de aulas têm por ano? E é dessa forma que se dá o exemplo? Não é. Quanto ao ruído, após as Boas-Vindas que deveriam ter sido dadas pela Diretora, poderia ter sido controlado com assertividade.

Este acontecimento fez-me lembrar o Livro Alta Definição - A Verdade do Olhar de Daniel Oliveira. Ana Zanatti, no prefácio, dizía que "vivemos numa sociedade que despreza os afetos, troça deles, acha-os lamechas, mas na escola devíamos estudar geometria emocional, aprender a reconhecer e valorizar as nossas emoções, respeitar sentimentos e a desenhar com eles uma constelação onde as várias forças se equilibrassem para nos permitirem sermos mais livres e autónomos, mais responsáveis e orgulhosos das nossas particularidades". Mais à frente, outra grande verdade: " E no fim das nossas vidas, não serão os discursos teóricos que iremos recordar, recordaremos antes todos aqueles que num gesto espontâneo, um olhar, um abraço, nos tocaram o coração sem lamechice nem demagogia mas com cuidado e respeito por quem somos, pela nossa humanidade que é também a deles, sem máscaras nem artifícios...recordaremos sim os que de alguma forma nos disseram: eu vejo o que dizem os teus olhos."

A Diretora de Turma não viu o que diziam os olhos dos alunos, nem o que diziam os olhos dos pais e das mães que estiveram naquela sala. Se tivesse visto, veria laços de amizade, saudades, entusiasmo, nervosismo, alegria, orgulho, interesse.

Termino com um dos meus autores preferidos:

"O essencial é saber ver, saber ver sem estar a pensar, saber ver quando se vê, e nem pensar quando se vê, nem ver quando se pensa". Fernando Pessoa

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