Porque a vida merece ser "degustada"


Lê devagar e decifra...

18-04-2019 17:35

Já tinha ouvido falar da Lx Factory mas não tinha noção do que iria encontrar. Na senda dos meus agendamentos para a apresentação do meu conto infanto-juvenil "O Prado da Felicidade", lá me pus ontem a caminho de Lisboa pois tinha reunião na Livraria Ler Devagar. Após ter conseguido levar a bom porto a aventura de conseguir estacionar a uns bons metros de distância, passei pelo Museu da Carris e um pouco à frente, visualizei um pequeno túnel, uma passagem por debaixo de habitações vintage e olhando, verifiquei que existia alguma movimentação para lá daquela arcada e a minha intuição fez-me entrar por ali. Mas, nada melhor que abordar um jovem que se encaminhava para uma lambreta e perguntar-lhe pela Lx Factory. Sim, é aqui, são estas duas ruas - disse ele. 

Avançando por uma das ruas e logo no início, verifiquei que estava num local sui generis, um local muito vintage, com uma série de edifícios que se adivinhava terem sido meros armazéns envelhecidos e que agora são alvo de muitas selfies e fotos por quem por ali circula. Estava a chover mas, aqui e ali, iam circulando pessoas - na sua grande maioria estrangeiros. E fui andando e fazendo um reconhecimento pela zona, apercebendo-me de imensas lojas, cafés e restaurantes. A inspiração paira no ar, sente-se. Sente-se na decoração dos espaços, na forma como alguns até se partilham, sendo contíguos uns aos outros, sente-se na forma como se está à conversa nos cafés, como se estuda, se convive em várias línguas e em modo verdadeiramente slow living. Um mundo slow numa Lisboa frenética. Como adoro descobrir estes mundos paralelos! E, como há tanto sempre por descobrir...

Feito o reconhecimento e após a descoberta da Livraria Ler Devagar, decidi conhecê-la por dentro. Aberta a porta de vidro, julgo que o meu olhar falou mais alto, fiquei estupefacta, dada a imensidão literária ali presente: à nossa frente, à nossa volta, por cima de nós, existem...livros, livros, livros, livros! Ok, e agora?! Por onde começar? Busquei pela razão, acalmei a emoção e perguntei como é que a Livraria se encontrava organizada. Literatura estrangeira, portuguesa e poesia, nos rés-do-chão e livros técnicos no 1º andar. Ok, segue. Passei ali umas boas 3 horas, comprei 3 livros, li um pouco na cafetaria, registei as dezenas de pessoas que ali entravam e saiam de câmara na mão e finalizei com a visita à exposição presente na galeria no 1º andar. Um desafio à nossa capacidade de decifrar mensagens curiosas, inspiradoras e de profundo sentido social e cultural. Aqui fica uma delas (presente na penúltima foto acima): "sem poesia e cultura, o povo poderá ir à loucura." De facto, em absoluto. O que somos nós, senão páginas em branco, à espera de experiências e de palavras que nos façam sentido?

A cultura é um puzzle que se vai montando lentamente durante a vida toda. 

 

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